"Nunca vi uma mulher tocar tão bem quanto você", escutei uma voz no trânsito.
Acordei, e vi que era hora de eu colocar essa minha vontade de andar rápido, e o espírito de competitividade, nas pistas, ao invés de ficar perigosamente batendo pegas com desconhecidos na rua.
"Alô! Oi, estou te ligando para te perguntar como é que se faz ovo cozido", escutou um namorado meu, que é Cheff, e tentou me ajudar a não cozinhar perigosamente.
Na cabeça do homem moderno e ativo não cabe mais as limitações das antigas tradições. Ou não deveria caber...
O Brasil ainda não havia sido descoberto, quando, em 1429, Joana D'arc, com 18 anos de idade, foi nomeada comandante do exército francês.
E eu tenho que escutar que "deveria estar com a barriga encostada no fogão", depois de uma ultrapassagem "por fora", na casa de um adversário.
Às vezes me perguntam se não é ruim uma mulher chegar em casa cheirando à gasolina.
Por experiência própria, digo: seria muito pior, se meu namorado chegasse e me encontrasse com cheiro de gordura, cebola, pimentão. Já namorei Cheff de cozinha, e quando eu abria a porta para ele, mandava-o direto ao banho antes mesmo de dar as boas vindas, pois no cabelo ficava entranhada aquela gordura de quem trabalhou a noite toda na cozinha.
Por estar fazendo o que quero, gosto e sou capaz, simplesmente nem percebo o preconceito existente à minha volta. Aliás, por muitos anos nem enxerguei. Agora, tantas porradas depois (dentro e fora da pista), não tenho como negar que exista, mas eu jamais mudaria meu modo de ser ou fazer as coisas, porque alguém pode "achar" ou "pensar" isso ou aquilo.
Na pista, sempre fiz questão que me vissem como piloto, e não como mulher, e assim sou respeitada pelos dois lados.
Preconceito existe por cor, raça, idade, posição social, composição corporal... e por sexo, claro! Homem não gosta de perder para mulher nem no palitinho. Dependendo da maturidade de quem já perdeu para mim, recebo elogios ou ataques verbais e até mesmo, físicos.
Definitivamente, guiar ou cozinhar bem, nada tem a ver com o sexo.
Prova é que, os piores motoristas da praça, que não usam seta, não respeitam faixa, sinalização, nem o ser humano do carro ao lado, são os mautoristas profissionais.
Para pilotar bem, seja um carro ou um fogão, é preciso vontade e vocação.
Admiro e parabenizo meu colega da página ao lado, pela paciência em trabalhar com a arte culinária.
De quem consegue queimar até ovo cozido...